20.4.07

Mas o amor, o génio - que podem eles contra o caruncho, as banheiras de latão, ou uma bomba de água no rés-do-chão?

«Fevereiro após Fevereiro, a Sra. Carlyle tossia na cama de dossel com cortinas castanhas onde havia nascido e, enquanto tossia, os inúmeros problemas da sua incessante batalha, contra o frio, contra a sujidade, acudiam-lhe à mente. O sofá de crina precisava de ser forrado de novo; o papel de parede da sala de estar, com o seu padrão escuro e miúdo, precisava de ser limpo; o verniz amarelo dos painéis havia estalado e começava a desprender-se - tudo tinha que ser cosido, limpo e polido pelas suas próprias mãos; e teria já logrado, ou ainda não, acabar com o caruncho que se reproduzia sem parar nos velhos painéis de madeira? Assim decorriam as longas horas das suas noites de insónia; a Sra. Carlyle ouvia então os passos do marido no andar de cima, e sustinha a respiração, e perguntava-se se Helen estaria já a pé e se teria acendido o lume e aquecido a água para que o Sr. Carlyle se pudesse barbear. Tinha início um novo dia, e com ele recomeçava o esfregar e bombear.»

"Londres", Virginia Woolf

1 Comments:

Blogger hazey jane said...

dormir serve mesmo como o alívio momentâneo. permitir que se esqueça um pouco para recomeçar. o mau das insónias é o cansaço. não tanto o físico, talvez. acho que não se suportaria viver todos os dias se constantemente houvesse a consciência da continuidade.
tenho que ler a virginia woolf. achei-a confusa quando queria descontrair e larguei, mas quero.
*

23/4/07 9:10 da tarde  

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