21.1.07

Na morte, desaparecemos. É muito simples.

Não sou pessoa para acreditar em heranças culturais. Quero lá saber se vou deixar uma obra. Garanto que, depois de morrer, não vou estar muito interessado naquilo que a imprensa vai dizer de mim. Podem pegar nos meus filmes todos e atirá-los para a sarjeta, que eu não me importo. Até nem me vou importar que me descrevam como tendo sido uma fraude cultural, ou a pior pessoa do mundo, ou até a melhor pessoa do mundo.

Há tanta gente empoleirada no túmulo de Shakespeare a falar dos grandes feitos artístícos, mas, no fundo, nada daquilo adianta grande coisa. Portanto, quando eu morrer, se houver uns quantos dólares em direitos de autor que possam ser usufruídos pelos meus filhos, óptimo. Fora isso, é como quando morreu o Richard Nixon ou quando morrer o Bill Clinton. Uma pessoa morre e pronto, está morta, que interesse tem isso para a pessoa que está morta?

Quando era mais novo, tinha o costume de oferecer os meus filmes ao Museu de Arte Moderna. Cheguei a enviar 15 filmes. Mas, depois, dei comigo a pensar: «Que raio, quem é que tu pensas que és? Que se passa aqui?», e parei logo de mandar encomendas, porque percebi que aquilo que me vai acontecer depois da morte não me interessa minimamente.

Só quero ser cremado na Madison Avenue, na esquina com a Rua 81. Nada de festas ou de discursos. Zero. Nunca.

Apenas o destino, e toca a andar.


Woody Allen, ao Expresso deste Sábado.