Lisboa tem uma fauna sedenta por consumir tudo aquilo que parece bem. Se parece bem ter um híbrido, vamos ter um PRIUS. Se parece bem ir jantar Airoldi, jantemos num dos "S"'s. No matter how much. A comida biológica também entrou na moda, como não podia deixar de ser. É ver supers e hipers recheados de prateleiras com massas, compotas ou queijos bio, para não falar do cogumelo bio ou da bróculo bio. Mas a fauna, como não podia deixar de ser, não vai a supers e a hipers nos subúrbios de Lisboa ou, se no centro de Lisboa, a mescla pode ser demasiado confusa. Há que consumir bio, mas não o bio do povo. Então é vê-los acotolevados para os lados do Campo Pequeno, onde os PRIUS em segunda fila (e muitos jipes também, curiosamente - devem ser ainda da geração anterior, quando o que era bem era andar de jipe em plena cidade) aguardam os sacos de pano ou de papel - nunca de plástico - que encherão os estômagos amigos da natureza. Aquilo soa um bocado ao discurso Al Gore, façam o que eu digo e não façam o que eu faço. Uma coerência que só visto.
Não está em causa o consumo de produtos menos agressivos para o planeta, o que todos aplaudimos. O que está para além do bom senso é que, à conta da marca bio, seja pago um valor exorbitante por tudo o que tem essas três letrinhas inscritas no pacote, o que é claramente potenciado por estes mercadinhos bem, que têm pouco mais do que os grandes mercados, fazendo-se cobrar bem por isso.
É claro que, apesar de não ter PRIUS (ou jipe) e de não jantar nos "S"'s, sou - ou tento ser - amiga do planeta (e da minha barriga), motivo pelo qual também lá fui (não moro no Campo Pequeno, mas até gostava!). O que encontrei foi tão pobre - para quem conhece os frescos e as prateleiras bios dos supers e hipers - que me faz duvidar da bondade destas opções e, claro, dos seus frequentadores.
De qualquer modo, parece inevitável. À cultura vem sempre associada um pedaço de moda (vazia, mas cheia de status). Venham mais.