Sou muito céptica no que diz respeito aos apoios estatais a eventos culturais. Há muitos que não passam de pseudo-cultura, aproveitado por pseudo-artistas que, não obstante alienados e irreverentes por natureza (ou pseudo-natureza?!), precisam de dinheiro para viver, como toda a gente. E há sempre um
negligent chic alimentado em cada um deles, o que eleva um bocado a fasquia. Lembro-me mais facilmente do teatro e do cinema, que vão sobrevivendo, em muitos casos, e apesar de tudo, graças ao subsídio que se vai buscar aqui e ali. Não acho que se deva menosprezar o papel do Estado no incentivo ao enriquecimento cultural dos cidadãos. Mas a arte (ou a cultura não implica arte?!) não se pode confundir com mero entretenimento. A arte entretém, decerto, mas vai muito para além disso. Toca o profundo que há em nós, faz-nos questionar, é perene. Claro que a arte, por definição, não é lucrativa, motivo
a fortiori pelo qual deverá ser o Estado a promovê-la, pois que o seu fim (o do Estado) não é o lucro - ou já teria sido há muito dissolvido.
Agora acaba-se a Festa da Música no CCB, porque é muito cara e não há dinheiro para tanto. Esta Festa tem sido um êxito e um marco na programação do CCB ao longo dos últimos anos, o que à partida poderia gerar estranheza, dado estarmos a falar de um festa dedicada à música erudita, tão apartada das massas nos dias que correm. A explicação, para mim, era simples: uma série de concertos que assumiam formas variadas (a solo, em grupo; de vinte minutos, de uma hora; com um instrumento, com
n instrumentos...), a preços extremamente acessíveis. Que jovem poderá seguir o calendário do S. Carlos e que jovem não poderá assistir a um destes concertos ou mesmo comprar um passe mais ou menos global da Festa da Música?! Eram os únicos dias do ano em que ouviamos falar deste tipo de música, vendo pessoas entusiasmadas a acorrer a um evento efectivamente cultural.
Não consigo conceber que haja falta de dinheiro investido na cultura. Penso que não há. O que concebo - e não percebo - é a deficiente distribuição que se faz desse dinheiro. Mas o problema do mundo não está todo aí, na distribuição?! E quem é que (não) se conforma...?