31.1.07
A despenalização vai necessariamente provocar a regulação de uma situação que tem andado desde sempre ao deus dará. Não é a liberalização do aborto que se vai votar; é o aborto regulado que está em causa.
30.1.07
de jure
Fernanda Câncio interveio lúcida e precisamente: isto é uma questão de código penal. Nada mais do que isso. Que se calem médicos e teorias científicas acerca do início da vida. Não é disso que se trata. Até podia ser, mas a pergunta é outra. Obrigada Vital Moreira: a questão é só de penal. Não há argumentos médicos e jurídicos para a resolução de um problema exclusivamente de Direito. Ninguém quer aplicar a lei que se está aqui a discutir. Ninguém. Que Estado de Direito Democrático é este que quer manter leis que não aplica?! Ai moralistas do direito à vida... Ai juristas de mente curta...
29.1.07
27.1.07
22.1.07
21.1.07
Na morte, desaparecemos. É muito simples.
Não sou pessoa para acreditar em heranças culturais. Quero lá saber se vou deixar uma obra. Garanto que, depois de morrer, não vou estar muito interessado naquilo que a imprensa vai dizer de mim. Podem pegar nos meus filmes todos e atirá-los para a sarjeta, que eu não me importo. Até nem me vou importar que me descrevam como tendo sido uma fraude cultural, ou a pior pessoa do mundo, ou até a melhor pessoa do mundo.
Há tanta gente empoleirada no túmulo de Shakespeare a falar dos grandes feitos artístícos, mas, no fundo, nada daquilo adianta grande coisa. Portanto, quando eu morrer, se houver uns quantos dólares em direitos de autor que possam ser usufruídos pelos meus filhos, óptimo. Fora isso, é como quando morreu o Richard Nixon ou quando morrer o Bill Clinton. Uma pessoa morre e pronto, está morta, que interesse tem isso para a pessoa que está morta?
Quando era mais novo, tinha o costume de oferecer os meus filmes ao Museu de Arte Moderna. Cheguei a enviar 15 filmes. Mas, depois, dei comigo a pensar: «Que raio, quem é que tu pensas que és? Que se passa aqui?», e parei logo de mandar encomendas, porque percebi que aquilo que me vai acontecer depois da morte não me interessa minimamente.
Só quero ser cremado na Madison Avenue, na esquina com a Rua 81. Nada de festas ou de discursos. Zero. Nunca.
Apenas o destino, e toca a andar.
Woody Allen, ao Expresso deste Sábado.
19.1.07
Eyes Open
Shut your eyes, I spin the big chair
And you'll feel dizzy, light, and free
And falling gently on the cushion
You can come and sing to me
And you'll feel dizzy, light, and free
And falling gently on the cushion
You can come and sing to me
18.1.07
Entre Kant e Hegel
Ficou-me das aulas de Direito Penal, em que tinha por Docente uma ilustre Magistrada do Constitucional, a noção de 'conceito material de crime'. Há algumas teorias, diferentes perspectivas, mas tenho ideia que, de entre duas visões possíveis, o comum - e típico em Estados de Direito Democrático e, portanto, em Portugal - é a sua simbiose.
A questão é: o que é que deve ser 'crime'? Que comportamentos devem ser caracterizados enquanto tal? Que acções ou omissões merecem uma pena privativa de liberdade?
A resposta, nessa simbiose estabelecida, é que é crime o que o pulsar da sociedade assim indicar, mas não só: poderá o legislador querer orientar a sociedade num determinado sentido (normalmente, no da concretização da ideia de Estado de Direito e da ideia de Democracia), por forma a que, passados anos, tal comportamento seja naturalmente encarado pela societas como um acto criminoso.
Pergunto-me onde podemos alcançar o conceito material de crime nas mulheres que se sujeitam a uma interrupção - dita voluntária - da gravidez. Num unanimismo nada dúbio, a sociedade condena a punição dessas mulheres - logo, não indica a necessidade de criminalização deste acto ao legislador. Por outro lado, nunca o legislador- Governo e deputados da AR- (ontem, hoje e amanhã) pretendeu que o aborto seja um acto que leve mulheres para as prisões.
No meio de tanto argumento, há um, esse sim, que deveria dar direito a prisão: há pessoas, de todos os quadrantes e responsabilidades, que defendem A NÃO APLICAÇÃO DE UMA LEI QUE QUEREM MANTER COM O VOTO NÃO NO REFERENDO DE DIA 11. Assinalam descaradamente: "Mas quantas mulheres estão presas por terem feito um aborto?" Nenhuma, porque ninguém encara esse acto como um crime merecedor de pena privativa de liberdade. Então para quê manter uma lei que nunca foi aplicada e que se pretende que nunca venha a ser?!
É apenas isto que está em causa no referendo: manter ou não em vigor uma lei que nunca será aplicada. Quem quer manter, vota não; Quem não quer, vota sim.
Estamos, assim, num estado de discussão manifestamente atrasado, porque devia dar-se por adquirido que há que rever uma lei que é mera letra morta. Andamos nisto há anos.
A questão é: o que é que deve ser 'crime'? Que comportamentos devem ser caracterizados enquanto tal? Que acções ou omissões merecem uma pena privativa de liberdade?
A resposta, nessa simbiose estabelecida, é que é crime o que o pulsar da sociedade assim indicar, mas não só: poderá o legislador querer orientar a sociedade num determinado sentido (normalmente, no da concretização da ideia de Estado de Direito e da ideia de Democracia), por forma a que, passados anos, tal comportamento seja naturalmente encarado pela societas como um acto criminoso.
Pergunto-me onde podemos alcançar o conceito material de crime nas mulheres que se sujeitam a uma interrupção - dita voluntária - da gravidez. Num unanimismo nada dúbio, a sociedade condena a punição dessas mulheres - logo, não indica a necessidade de criminalização deste acto ao legislador. Por outro lado, nunca o legislador- Governo e deputados da AR- (ontem, hoje e amanhã) pretendeu que o aborto seja um acto que leve mulheres para as prisões.
No meio de tanto argumento, há um, esse sim, que deveria dar direito a prisão: há pessoas, de todos os quadrantes e responsabilidades, que defendem A NÃO APLICAÇÃO DE UMA LEI QUE QUEREM MANTER COM O VOTO NÃO NO REFERENDO DE DIA 11. Assinalam descaradamente: "Mas quantas mulheres estão presas por terem feito um aborto?" Nenhuma, porque ninguém encara esse acto como um crime merecedor de pena privativa de liberdade. Então para quê manter uma lei que nunca foi aplicada e que se pretende que nunca venha a ser?!
É apenas isto que está em causa no referendo: manter ou não em vigor uma lei que nunca será aplicada. Quem quer manter, vota não; Quem não quer, vota sim.
Estamos, assim, num estado de discussão manifestamente atrasado, porque devia dar-se por adquirido que há que rever uma lei que é mera letra morta. Andamos nisto há anos.
16.1.07
Pela 1ª frase, percebi logo que era bom.
Quando comecei a ficar doente, soube logo que ía morrer.
Cemitério de Pianos, José Luís Peixoto
(vou na 30ª página)
15.1.07
Le jardin...
(...)
This winter air is keen and cold,
And keen and cold this winter sun,
But round my chair the children run
Like little things of dancing gold.
(...)
O. Wilde
Neo-dirigismo
A exposição «Amadeo Souza-Cardoso Diálogo de Vanguardas», que encerrou à meia-noite de domingo na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, recebeu um total de 100.117 visitantes, informou esta segunda-feira à Agência Lusa fonte da instituição.
Apesar de não existirem registos precisos sobre os números de visitantes de outras exposições patentes na Gulbenkian, a mesma fonte garantiu que esta retrospectiva sobre o pintor português «foi uma das mais visitadas de sempre» nos museus da Fundação.
A elevada afluência de visitantes levou a administração a alargar excepcionalmente os horários de funcionamento do Museu Calouste Gulbenkian, que, durante o último fim-de-semana, se manteve aberto durante a madrugada, outra decisão inédita. Mesmo assim, verificaram-se filas de mais de duas horas de espera para aceder à mostra.
Fonte: Diário Digital
A exposição esteve aberta ao público desde 14 de Novembro e, é verdade, foi tendo uma boa afluência. O curioso é que a elevada afluência apenas surgiu com o alargamento dos horários de visita. Durante o fim-de-semana gerou-se um élan tal à volta do caso que quase parecia criminoso aquele que não fosse ver a exposição. Mesmo nunca tendo ouvido falar do pintor e do seu trabalho, importante era dizer que se tinha ido ver. Duvido que, com tanta gente, tenham conseguido de facto ver alguma coisa e estou certa que os apreciadores não deixaram a visita para os últimos dias. Neste caso, tratou-se de uma actividade verdadeiramente cultural, felizmente, mas não deixa de ser ilustrativo do ser português.
(E sim, também lá estive. À meia-noite. Como as filas continuavam e o meu interesse não se compadecia com encontrões à frente de quadros, vim-me embora.)
11.1.07
relógio biológico
Nos dias em que a manhã começa mais cedo e o destino é diferente do que sempre costuma ser, chego à noite e sinto um turbilhão qualquer dentro de mim, mesmo que não tenha vivido nada de especial ou de muito diferente. Acho que é a ânsia de viver a descobrir e de querer aprofundá-lo e reforçá-lo já amanhã, se possível fosse.
Há tantos mundos para além do nosso e para além de nós, que receio perder-me no quotidiano rotineiro que todos os dias me cerca.
Há um passo neste meu processo de crescimento que a cada dia sinto mais premente. Não será o grito do Ipiranga, mas é a concretização e a consciencialização do patamar em que me encontro. Falta ver se me aguento.
Há tantos mundos para além do nosso e para além de nós, que receio perder-me no quotidiano rotineiro que todos os dias me cerca.
Há um passo neste meu processo de crescimento que a cada dia sinto mais premente. Não será o grito do Ipiranga, mas é a concretização e a consciencialização do patamar em que me encontro. Falta ver se me aguento.
8.1.07
A intrigante era do digital
Os tribunais portugueses vão começar a ser equipados, a partir de Janeiro, com sistemas de gravação digital que substituirão integralmente a gravação por cassete. O projecto do Ministério da Justiça (MJ), que decorria em piloto desde Setembro último, irá abranger um total de 230 salas.Mais aqui.
Há dias fiquei surpreendida por ter visto a introdução do elemento cd, num recurso de um processo-crime que corre na Boa Hora. É verdade, dizia-se mesmo: "Ao minuto 51 do CD nº 2". Vai, portanto, deixar de haver o elemento cassete, que obrigava o funcionário judicial, no meio da audiência, a gritar um "Alto lá que tenho que mudar a cassete de lado!", e forçava as testemunhas ou quem quer que fosse que estivesse a falar a repetir o discurso que tinham encadeado uns minutos antes.
Agora vou deixar de desenterrar o walkman, para passar a usar o discman. Modernices!
Portugueses em Londres
A reestruturação consular que será discutida esta semana na Assembleia da República, proposta pelo Governo, foi antecipada em terras de sua majestade, com a não renovação (i. e., despedimento) do vínculo a 5 trabalhadores contratados a termo certo do Consulado Geral de Portugal em Londres. 5 trabalhadores que haviam subscrito uma queixa-crime por Fraude e por Abuso de Confiança contra a Segurança Social. Porquê?
Porque NÃO TÊM:
*segurança social;
*recibo de vencimento;
*retenção de impostos;
*declaração anual de rendimentos;
*salário igual aos restantes trabalhadores que fazem igual trabalho;
*acreditação diplomática.
mas TÊM (ou tinham...)
*sucessivos contratos a termo certo.
A resposta ao problema veio com o despedimento dos trabalhadores mais interventivos na defesa dos seus direitos.
Quem diria que estamos no século XXI, governados por uma maioria socialista?!
Mais aqui.
Porque NÃO TÊM:
*segurança social;
*recibo de vencimento;
*retenção de impostos;
*declaração anual de rendimentos;
*salário igual aos restantes trabalhadores que fazem igual trabalho;
*acreditação diplomática.
mas TÊM (ou tinham...)
*sucessivos contratos a termo certo.
A resposta ao problema veio com o despedimento dos trabalhadores mais interventivos na defesa dos seus direitos.
Quem diria que estamos no século XXI, governados por uma maioria socialista?!
Mais aqui.
6.1.07
parvoíces femininas
Quando me pedem para escolher uma sobremesa, escolho arroz doce. Porque não gosto de arroz doce.
5.1.07
How much does life weigh?
How many lives do we live? How many times do we die? They say we all lose 21 grams... at the exact moment of our death. Everyone. And how much fits into 21 grams? How much is lost? When do we lose 21 grams? How much goes with them? How much is gained? How much is gained? Twenty-one grams. The weight of a stack of five nickels. The weight of a hummingbird. A chocolate bar. How much did 21 grams weigh?
21 Grams, 2003
People goin' down to the ground, buildings goin' up to the sky
Wintertime in New York town,
The wind blowin' snow around.
Walk around with nowhere to go,
Somebody could freeze right to the bone.
I froze right to the bone.
New York Times said it was the coldest winter in seventeen years;
I didn't feel so cold then.
Talking New York, Bob Dylan